Mudando o curso
Um quarto, uma sala, um banheiro e duas janelas sempre fechadas. Um móvel com uma televisão que ficava ligada dia e noite, dando a impressão que havia mais alguém na casa além dele. Uma cadeira com o encosto quebrado e uma mesinha onde passava horas escrevendo sem parar.
A cama com o colchão de molas ajudava seu corpo a descansar quando não tinha nada melhor pra fazer. Na sala, um fogão e umas poucas panelas, mais nada. Se tinha fome, fazia café e comia pão com margarina.
Estava magro de dar dó, mas não se importava com a dó de ninguém.
Não queria responsabilidades. Não queria "bom dia", "boa noite" nem muito menos "feliz aniversário".
Só queria terminar seu livro. Há 1 ano tentava encontrar um desfecho para a história, mas nada acontecia.
Ele esperava por algo. Sabia que ia acontecer a qualquer hora, só precisava ter paciência e sensibilidade para entender quando chegasse, afinal...
A mãe bem que tentava tirá-lo dali quando levava comida, mas em vão. Disse à ela "adeus, eu volto!" e desligou os telefones.
Então um dia ele sonhou com um bando de andorinhas no céu seguindo o mesmo curso, ao mesmo tempo. Estava de pés descalços e com as mãos muito sujas, mas tinha uma expressão feliz e serena olhando para as nuvens.
Quando acordou rasgou todos os papéis já escritos, ateou fogo e jogou tudo fora - "Acabou!"
Ele escrevia muito mal e sabia disso.
Abriu as janelas e escancarou a porta.
Agora que ele estava livre, resolveu que ia ser pintor.
(Dulce Miller)


Ele deve ser um escorpiniano... Vai ao fundo, lá encontra libertação... e segue adiante...
ResponderExcluirBeijos, Du!!! :)
Amei, amei, amei!
ResponderExcluirÉ o que acontece quando a gente insiste em vão numa coisa que não vai dar certo.
Decidamos: sejamos pintores!