As folhas caiam em total silêncio na praça central da cidade. Eu caminhava com passos lentos característicos de quem não tem pressa nenhuma. Na verdade não ia a lugar algum, mas também não podia ficar parada.Tudo girava muito rápido na minha mente e a inércia era assustadora. Precisava sair, caminhar, pensar...

E assim cheguei ali, no meio de uma revoada de pássaros que seguiam para o Sul.  Parei encantada, olhando tudo com a simplicidade de quem acredita que as coisas sempre podem mudar para melhor. Mas  eu nunca gostei de mudanças, preciso de estabilidade, de chão firme e seguro sob meus pés...

O vento gelava  meu rosto embaraçando meus cabelos, mas isto não me incomodava de jeito nenhum. Só pensava em como seria bom se no próximo outono as coisas estivessem realmente diferentes.

O outono sempre foi uma surpresa para meus olhos, talvez por isto eu faça esta associação absurda com problemas. Quero a alma do outono na minha vida, com suas cores infinitamente mais vivas, com a renovação das árvores, com o sol aquecendo no final de tarde, o friozinho da noite chegando de mansinho.

Então respirei fundo de olhos fechados, os braços abertos absorvendo o vento....

Tudo acontece muito rápido e hoje eu sou toda esperança. Sentei num dos bancos da praça juntando um punhado de folhas secas nas mãos. Aquelas folhas já foram de um verde vivo, agora cumpriam seu ciclo... adoro  folhas amareladas espalhadas pelo chão das ruas! 

Eu sou um pouco estas folhas, um pouco do vento, um pouco do sol, um pouco de tudo um pouco do outono, que amo e respeito como se fosse um ciclo da minha própria existência. E é mesmo.

Tudo novo de novo, mais uma vez. E no outono, eu sempre me sinto assim.

[Dulce Miller]