Blogagem coletiva: Entre Aspas, Castro Alves!

00:01 Dulce Miller 10 Comments

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Assim que aprendi a ler ganhei um livro de poesias de Castro Alves e me apaixonei... eu lia e relia o tempo todo, cheguei a decorar na época! Eu devia ter uns 7 anos... Vejam que poesia linda!

O Laço de Fita

Não sabes, criança? 'Stou louco de amores...

Prendi meus afetos, formosa Pepita.

Mas onde? No templo, no espaço, nas névoas?!

Não rias, prendi-me

Num laço de fita.

Na selva sombria de tuas madeixas,

Nos negros cabelos da moça bonita,

Fingindo a serpente qu'enlaça a folhagem,

Formoso enroscava-se

O laço de fita.

Meu ser, que voava nas luzes da festa,

Qual pássaro bravo, que os ares agita,

Eu vi de repente cativo, submisso

Rolar prisioneiro

Num laço de fita.

E agora enleada na tênue cadeia

Debalde minh'alma se embate, se irrita...

O braço, que rompe cadeias de ferro,

Não quebra teus elos,

Ó laço de fita!

Meu Deusl As falenas têm asas de opala,

Os astros se libram na plaga infinita.

Os anjos repousam nas penas brilhantes...

Mas tu... tens por asas

Um laço de fita.

Há pouco voavas na célere valsa,

Na valsa que anseia, que estua e palpita.

Por que é que tremeste? Não eram meus lábios...

Beijava-te apenas...

Teu laço de fita.

Mas ai! findo o baile, despindo os adornos

N'alcova onde a vela ciosa... crepita,

Talvez da cadeia libertes as tranças

Mas eu... f ico preso

No laço de fita.

Pois bem! Quando um dia na sombra do vale

Abrirem-me a cova... formosa Pepital

Ao menos arranca meus louros da fronte,

E dá-me por c'roa...

Teu laço de fita.

No período em que viveu (1847-1871), ainda existia a escravidão no Brasil. O jovem baiano, simpático e gentil, apesar de possuir gosto sofisticado para roupas e de levar uma vida relativamente confortável, foi capaz de compreender as dificuldades dos negros escravizados.

Manifestou toda sua sensibilidade escrevendo versos de protesto contra a situação a qual os negros eram submetidos. Este seu estilo contestador o tornou conhecido como o “Poeta dos Escravos”.

Aos 21 anos de idade, mostrou toda sua coragem ao recitar, durante uma comemoração cívica, o “Navio Negreiro”. A contra gosto, os fazendeiros ouviram-no clamar versos que denunciavam os maus tratos aos quais os negros eram submetidos.

Além de poesia de caráter social, este grande escritor também escreveu versos líricos-amorosos, de acordo com o estilo de Vítor Hugo. Pode-se dizer que Castro Alves foi um poeta de transição entre o Romantismo e o Parnasianismo.

Este notável escritor morreu ainda jovem, antes mesmo de terminar o curso de Direito que iniciara, pois, vinha sofrendo de tuberculose desde os seus 16 anos.

Apesar de ter vivido tão pouco, este artista notável deixou livros e poemas significativos.

Poesias de Castro Alves

- Espumas Flutuantes, 1870 - A Cachoeira de Paulo Afonso, 1876 - Os Escravos, 1883 - Hinos do Equador, em edição de suas Obras Completas (1921) - Navio Negreiro (1869) - Tragédia no lar

Fonte: Aqui

Este post faz parte da blogagem coletiva promovida pelo blog:

Acqua - Um instante de inspirações diversas…

10 comentários:

  1. Escolha perfeita, Castro Alves sempre me encantou, quando menina li pouco de sua obra, agora que estou com tempo de sobra quero retomar a leitura, mas do que li me apaixonei.
    Beijos!

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  2. Anônimo09:23

    Castro Alves, o grande poeta dos escravos, homem inteligentíssimo que usava as palavras de uma meneira tão simplória e verdadeira... Até o grande Jorge Amado o admirava e escreveu um livro sobre ele, vc já leu Du?!
    O livro é: O ABC de Castro Alves.
    Vale a pena conferir!!
    BEijão,

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  3. Anônimo09:57

    Quando criança adorava as sete sombras de Castro Alves, estranho, mas agora me ocorre que já faz muito tempo que não o leio. Abraços meus e grata pela participação com tão rico post. Boa semana...

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  4. Du,

    beijão!

    Cadê a música?

    Eliana

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  5. Um belo poema, sem dúvida!
    Percebi tratar-se de um poeta que, tendo morrido muito jovem, não deixou de lutar pela situação humilhante dos escravos.
    Parabéns pela escolha.
    Um abraço,

    Milouska

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  6. Anônimo14:36

    Boa tarde Du, tudo bem?
    Você acredita que eu não sabia dessa blogagem? Rs...vi o selo em alguns blogs, inclusive aqui, mas correndo como sempre, não dei atenção, acabei perdendo uma blogagem que eu gostaria muito de participar! Mas tudo bem, outras virão, rs

    sua participação é belíssima em especial por ter escolhido tão bem o poeta. O Poeta dos Escravos, como é conhecido Castro Alves, nos deixou uma obra imortal, belíssima!

    Lindo demais Du!

    P.S.: Obrigada por ter postado o meu comentário no dia de ontem, fiquei feliz com o seu gesto de carinho. Obrigada, desejando que o seu dia tenha sido muito especial.

    Uma semana iluminada para você!

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  7. Excelente escolha para homenagear. Abraço

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  8. E aí,moça. Brincou muito ontem?
    =)
    Eu tb participei do Abre Aspas! rs
    Adoro literatura e adoro esse porma do porta dos escravos! Ótima escolha!
    Parabéns, amigão!!!!! \o/
    HJ é niver do Lula! rs


    Du, posso pedir uma coisa? Pedi para o Lucas, mas acho que ele está ocupado...hehheh Eu queria muito colocar em meu blog esse sistema que vc tem, de comentar os comentarios. Vc pode me ajudar? =) Mas se não der, tudo beem! =)
    Oh, deixarei o meu msn aqui: gleyce.los@gmail.com

    Beijos, moça!!!!

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  9. Anônimo18:26

    Lembro que quando criança, tinha que ler alguns textos, principalmente de Castro Alves. Naqueles meus 13, 14 anos era uma tortura. Ainda bem que eu cresci e hoje tenho uma visão diferente. Belo post, Duzinha!!! Beijos!!

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  10. Du, este é o terceiro poeta homenageado pela blogagem que foi arrebatado da vida pela tuberculose ainda jovem, só um deles escapou e viveu até 80 e poucos anos. Era a doença daquela época. E todos eram contemporâneos!

    Lembrei da cena da novela Sinhá Moça em que um personagem, filho de coronel com uma escrava, recita justamente o Castro Alves diante da alta sociedade, num baile! Foi uma cena marcante.

    Agora o poema do laço de fita é bem parecido com uma gostosa brincadeira de criança. :-)

    Beijos, Duzinha!

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