A indiferença nossa de cada dia
Nem Assim
Quem dera eu
ser egoísta, narcisista
ter a linguagem dos maus
fugindo da felicidade
me arremessando
para o lado da desgraça...
Quem dera eu,
ser masoquista, anarquista
odiar o mundo todo, a vida
afugentar os pássaros
destruir as flores...
Quem dera eu,
ter um coração de pedra
e ferir com um olhar
quem por mim passar
só pra você perceber que eu existo
e, ao menos,
me odiar.
Mas,
nem isso...
[Du - poeminha de 1990]
O que é indiferença?
Seria um desvio de comportamento, um costume, uma forma de sobrevivência, um mecanismo de defesa, de resistência, ou consequência do egoísmo e do medo? O fato é que todos nós, uns mais outros menos, somos indiferentes, "passamos ao largo" de muitas coisas, realidades, fatos e pessoas, em algumas situações, até de nós mesmos. A indiferença tem um poder devastador. Ela é a companheira doentia do dominador e opressor, também dos que preferem as desigualdades, a violência, o ódio e a morte. Os indiferentes, de uma forma ou de outra, ferem, rejeitam, excluem, matam. Está correta a conclusão: o contrário do amor não é o ódio, mas a indiferença.
“Se eu morrer, morre comigo um certo modo de ver, disse o poeta. Um poeta é só isso: um certo modo de ver. O diabo é que, de tanto ver, a gente banaliza o olhar... vê, não vendo. Experimente ver pela primeira vez o que você vê todo dia sem ver. Parece fácil, mas não é. O que nos é familiar, já não desperta curiosidade. O campo visual da nossa rotina é como um vazio. Você sai todo dia, por exemplo, pela mesma porta. Se alguém lhe perguntar o que é que você vê no seu caminho, você não sabe. De tanto ver, você não vê. Sei de um profissional que passou 32 anos a fio pelo mesmo porteiro. Dava-lhe bom-dia e, às vezes, lhe passava um recado ou uma correspondência. Um dia, o porteiro cometeu a descortesia de falecer. Como era ele? Sua cara, sua voz, como se vestia? Não fazia a mínima ideia. Em 32 anos, nunca o viu. Para ser notado, o porteiro teve que morrer. Se um dia, no seu lugar estivesse uma girafa cumprindo o rito, pode ser que ninguém desse por sua ausência. O hábito suja os olhos e lhes baixa a voltagem. Mas, há sempre o que ver: gente, coisas, bichos. E vemos? Não, não vemos. Uma criança vê o que um adulto não vê., pois tem olhos atentos e limpos para o espetáculo do mundo. O poeta é capaz de ver pela primeira vez o que, de tão visto, ninguém vê. Há pai que nunca viu o próprio filho, marido que nunca viu a própria mulher. Isso exige muito. Nossos olhos se gastam no dia-a-dia. É por aí que se instala no coração o monstro da indiferença.”
Fonte das imagens: Daqui, daqui e daqui.
Obrigada pelas felicitações de niver!! =)
ResponderExcluirBjs
Bom dia!
ResponderExcluirQue bom acordar e ler poemas e textos,feitos por pessoas que realmente gostam do que fazem.
Grande abraço
se cuida
É, sempre queremos ser ou fazer aquilo que não somos e fazemos por alguém... é sempre difícil quando o fato de ser como somos nos faz pensar que é o equívoco.
ResponderExcluirLinda postagem!
Obrigada por comentar no meu blog!
xD
Indiferença é ausência, um "passar ao largo".
ResponderExcluirGosto muito do que escreveu Mário Quintana:
"Os anjos não dão os ombros, não; quando querem mostrar indiferença os anjos dão as asas."
Boa semana!
Beijus,
Du... Doce amiga....
ResponderExcluirDesprezo versus indiferença, qual deles é mais humilhante?!...
De qualquer modo, serão o reflexo de uma certa degradação humana.
Admiro o teu profundo sentido dos sentimentos humanos...Acho que o desprezo usado como arma é em si mesmo desprezível, só próprio de mau íntimo e covardia.
Temos sempre a palavra e a argumentação perante quem entende, para quem não entende existe outra coisa que se chama piedade ou caridade.
Não sou nada indiferente à tua escrita... rs
Está lindo aqui hem! Tão doce quanto tu. Fazia tempo que não vinha cá. Desculpa...
Agradeço-te mais uma vez pelas palavras de carinho, pelo cuidado, e principalmente pela tua amizade!
És um presente de valor instimável!!...
Bacio quest'anima bella...
Ah Du, como é gostoso voltar a blogosfera e encontrar as suas palavras tão doces e tão diferentes nessa "indiferença nossa de cada dia"! É como se recebêcemos um abraço dessa brisa suave que entra pela janela.
ResponderExcluirQuem dera eu poder construir versos que ao menos tocassem os poemas.
Quem dera eu poder odiar até o último poema aqueles que rasgaram as minhas palavras sem ao menos olhar para traz.
Quem dera eu poder novamente abraçar aqueles que riscaram o meu nome num crônica de sangue...
Quem dera eu poder, quem dera eu poder ou nem isso...
Lindo, lindo e lindo!!!
Ah como é bom voltar aqui nesse Norte que é tão Moça dos sonhos...
Te amo!!