A indiferença nossa de cada dia

23:49 Dulce Miller 6 Comments

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Nem Assim

Quem dera eu
ser egoísta, narcisista
ter a linguagem dos maus
fugindo da felicidade
me arremessando
para o lado da desgraça...
Quem dera eu,
ser masoquista, anarquista
odiar o mundo todo, a vida
afugentar os pássaros
destruir as flores...
Quem dera eu,
ter um coração de pedra
e ferir com um olhar
quem por mim passar
só pra você perceber que eu existo
e, ao menos,
me odiar.
Mas,
nem isso...

[Du - poeminha de 1990]

Cegos_pela_Indiferen_a

O que é indiferença?

Seria um desvio de comportamento, um costume, uma forma de sobrevivência, um mecanismo de defesa, de resistência, ou consequência do egoísmo e do medo? O fato é que todos nós, uns mais outros menos, somos indiferentes, "passamos ao largo" de muitas coisas, realidades, fatos e pessoas, em algumas situações, até de nós mesmos. A indiferença tem um poder devastador. Ela é a companheira doentia do dominador e opressor, também dos que preferem as desigualdades, a violência, o ódio e a morte. Os indiferentes, de uma forma ou de outra, ferem, rejeitam, excluem, matam. Está correta a conclusão: o contrário do amor não é o ódio, mas a indiferença.

[Guilherme Lieven]

indiferenca

“Se eu morrer, morre comigo um certo modo de ver, disse o poeta. Um poeta é só isso: um certo modo de ver. O diabo é que, de tanto ver, a gente banaliza o olhar... vê, não vendo. Experimente ver pela primeira vez o que você vê todo dia sem ver. Parece fácil, mas não é. O que nos é familiar, já não desperta curiosidade. O campo visual da nossa rotina é como um vazio. Você sai todo dia, por exemplo, pela mesma porta. Se alguém lhe perguntar o que é que você vê no seu caminho, você não sabe. De tanto ver, você não vê. Sei de um profissional que passou 32 anos a fio pelo mesmo porteiro. Dava-lhe bom-dia e, às vezes, lhe passava um recado ou uma correspondência. Um dia, o porteiro cometeu a descortesia de falecer. Como era ele? Sua cara, sua voz, como se vestia? Não fazia a mínima ideia. Em 32 anos, nunca o viu. Para ser notado, o porteiro teve que morrer. Se um dia, no seu lugar estivesse uma girafa cumprindo o rito, pode ser que ninguém desse por sua ausência. O hábito suja os olhos e lhes baixa a voltagem. Mas, há sempre o que ver: gente, coisas, bichos. E vemos? Não, não vemos. Uma criança vê o que um adulto não vê., pois tem olhos atentos e limpos para o espetáculo do mundo. O poeta é capaz de ver pela primeira vez o que, de tão visto, ninguém vê. Há pai que nunca viu o próprio filho, marido que nunca viu a própria mulher. Isso exige muito. Nossos olhos se gastam no dia-a-dia. É por aí que se instala no coração o monstro da indiferença.”

[Texto de Otto Lara Resende]

Fonte das imagens: Daqui, daqui e daqui.

6 comentários:

  1. Obrigada pelas felicitações de niver!! =)
    Bjs

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  2. Bom dia!
    Que bom acordar e ler poemas e textos,feitos por pessoas que realmente gostam do que fazem.
    Grande abraço
    se cuida

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  3. É, sempre queremos ser ou fazer aquilo que não somos e fazemos por alguém... é sempre difícil quando o fato de ser como somos nos faz pensar que é o equívoco.

    Linda postagem!

    Obrigada por comentar no meu blog!

    xD

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  4. Indiferença é ausência, um "passar ao largo".
    Gosto muito do que escreveu Mário Quintana:
    "Os anjos não dão os ombros, não; quando querem mostrar indiferença os anjos dão as asas."
    Boa semana!
    Beijus,

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  5. Du... Doce amiga....

    Desprezo versus indiferença, qual deles é mais humilhante?!...
    De qualquer modo, serão o reflexo de uma certa degradação humana.

    Admiro o teu profundo sentido dos sentimentos humanos...Acho que o desprezo usado como arma é em si mesmo desprezível, só próprio de mau íntimo e covardia.

    Temos sempre a palavra e a argumentação perante quem entende, para quem não entende existe outra coisa que se chama piedade ou caridade.

    Não sou nada indiferente à tua escrita... rs

    Está lindo aqui hem! Tão doce quanto tu. Fazia tempo que não vinha cá. Desculpa...

    Agradeço-te mais uma vez pelas palavras de carinho, pelo cuidado, e principalmente pela tua amizade!
    És um presente de valor instimável!!...

    Bacio quest'anima bella...

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  6. Ah Du, como é gostoso voltar a blogosfera e encontrar as suas palavras tão doces e tão diferentes nessa "indiferença nossa de cada dia"! É como se recebêcemos um abraço dessa brisa suave que entra pela janela.

    Quem dera eu poder construir versos que ao menos tocassem os poemas.

    Quem dera eu poder odiar até o último poema aqueles que rasgaram as minhas palavras sem ao menos olhar para traz.

    Quem dera eu poder novamente abraçar aqueles que riscaram o meu nome num crônica de sangue...

    Quem dera eu poder, quem dera eu poder ou nem isso...

    Lindo, lindo e lindo!!!

    Ah como é bom voltar aqui nesse Norte que é tão Moça dos sonhos...

    Te amo!!

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